Hoje em dia são cada vez mais as pessoas que investem no seu desenvolvimento pessoal e “correm” em busca da sua espiritualidade. Na minha profissão encontro muitas pessoas com vontade de mudar, e muitas já em processo de mudança, mas também muitas que não sabem o que fazer primeiro.
Eckhart Tolle, no seu livro “Um Novo Mundo – Despertar para a Essência da Vida” (no qual me inspiro para escrever este artigo) escreveu, respondendo a alguém que lhe questionava sobre qual o melhor curso para fazer,: “Não sei (…) mas posso dizer-lhe uma coisa: esteja atento à sua respiração sempre que puder, sempre que se lembrar. Faça isso durante um ano, pois terá um poder transformador maior do que se frequentar estes cursos todos.”.
Ao longo do dia, inspiramos e expiramos cerca de 23 000 vezes e, num ano, 8,4 milhões de vezes. A maior parte destes movimentos são feitos de forma involuntária, no entanto, cada exercício de respiração consciente que fazemos pode ajudar-nos a criar um refúgio para nós num mundo cada vez mais caótico. O melhor de tudo? Respirar é grátis e é algo que podemos fazer em qualquer momento e em qualquer lugar.
Há muitos séculos que se sabe que respirar profundamente nos ajuda a relaxar. Nas filosofias orientais, dominar a respiração é o segredo para controlar a energia vital do corpo. O Pranayama, ou controlo da respiração, é uma técnica de yoga utilizada há séculos para aumentar a longevidade, melhorar a concentração e ajudar a relaxar a mente para a meditação (e que aplico nas minhas aulas). O termo deriva do sânscrito: Prana que significa “força vital” e Ayama que significa “ampliar ou prolongar”. Em conjunto, o termo significa extensão ou controlo da respiração.
Siddhartha Guatama, mais conhecido como Buda, defendia a meditação de respiração como uma forma de alcançar a iluminação, designada em sânscrito de Samadhi. O método tradicional sugerido por Buda era “siga a sua respiração”. Recomendava ir para a floresta, sentar-se debaixo de uma árvore e simplesmente observar a própria respiração: “se a respiração é longa, aperceba-se de que a respiração é longa; se for curta, aperceba-se de que é curta.”
Segundo Eckhart Tolle, “estarmos atentos à nossa respiração afasta a nossa atenção do pensamento e cria espaço. É uma forma de gerar consciência. Embora a totalidade da consciência já esteja presente sem estar manifestada, estamos aqui para trazer essa consciência a esta dimensão.”
É por isso tão importante estarmos atentos à nossa respiração. Reparar na sensação que a respiração nos provoca. Sentir o ar a entrar e a sair do nosso corpo. Reparar como o peito e o abdómen se expandem e se contraem ligeiramente com a inspiração e a expiração. Uma respiração consciente é o suficiente para criar algum espaço onde anteriormente existia uma sucessão ininterrupta de pensamentos. Uma respiração consciente, feita várias vezes ao dia, é um excelente modo de trazer espaço à nossa vida. Mesmo que meditemos sobre a nossa respiração durante umas horas, como algumas pessoas fazem, uma respiração isolada é o suficiente para ganharmos consciência, aliás, novamente segundo Eckhart Tolle, “é mesmo a única coisa de que pode ter consciência. O resto é memória ou antecipação, ou seja, pensamento. Na realidade a respiração não é algo que nós façamos, mas algo que presenciamos enquanto acontece. A respiração acontece por si própria. É a inteligência do corpo que a produz. A única coisa que tem de fazer é observá-la à medida que ela acontece” reparando, essencialmente, no “momento de quietude no final da expiração, antes de começar novamente a inspirar”.
A ciência começa a evidenciar que os benefícios destas práticas (quase todas ancestrais) são reais. Estudos científicos demonstraram que os exercícios de respiração podem reduzir o stress, aumentar o estado de alerta e estimular o sistema imunitário. Respirar tem um poder essencial para a mente, pelo que a respiração controlada pode mesmo mudar a resposta do sistema nervoso autónomo do corpo, que controla os processos inconscientes, como o ritmo cardíaco e a digestão, bem como a resposta do corpo ao stress. Uma respiração lenta e constante acalma o sistema nervoso simpático (a reação de “luta” ou “fuga”) e ativa o sistema nervoso parassimpático (responsável pelo descanso e pelo sistema digestivo), enviando uma mensagem ao cérebro de que tudo está bem. Isto pode abrandar o ritmo cardíaco e da digestão e promover sentimentos de calma.
As técnicas de respiração também podem ajudar a mitigar a ansiedade e a insónia. Não só ajudam fisicamente, estimulando o sistema nervoso parassimpático, como também podem ajudar a desviar a atenção dos nossos pensamentos.
Estarmos conscientes da nossa respiração força-nos a entrar no momento presente, o que constitui a chave para a transformação interior. Sempre que estamos conscientes da nossa respiração, estamos absolutamente presentes pois não conseguimos pensar e estarmos conscientes da nosso respiração ao mesmo tempo. A respiração consciente faz parar a nossa mente, mantendo-nos despertos e atentos. E, à medida que o vamos fazendo mais vezes, começamos a observar cada vez com mais atenção e descobrimos que essas duas coisas – estar plenamente no momento presente e deixar de pensar sem perder a consciência – são, na realidade, um só: o nascer da consciência do espaço.
Não esqueça: “Na vida, pode sempre contar com a respiração!” e vai sempre a tempo de mudar e começar a fazer diferente e melhor.
No nosso estúdio, nas aulas de Hatha Yoga Funcional e, também, nas aulas de Pilates, a respiração consciente está sempre presente e pode ser um excelente incentivo para quem ainda não pratica sozinho. O importante é começar pois com o tempo perceberá o impacto na sua vida e desejará fazê-lo cada vez mais vezes.
Encontramo-nos nas aulas 😉
Namastê.
Andreia Sequeira – Diretora Geral e Professora