Escrever sobre SER MULHER e FELICIDADE, no período em que nos encontramos, é um desafio (mais um).
Nunca passámos por algo semelhante. Ninguém estava preparado realmente. E há um tempo atrás era difícil imaginar que isto pudesse acontecer.
A verdade é que todos estamos nesta “guerra”, a reestruturar as nossas vidas e a adaptarmo-nos o melhor que conseguimos. E nesta fase, e mais do que nunca, sinto que temos de ser generosos connosco mesmos porque a maioria de nós está mesmo a fazer o melhor que consegue e com muito esforço.
Então como sentir FELICIDADE no meio deste turbilhão de emoções, no meio de tantas mudanças, realizando mais tarefas por dia que algum dia realizámos, sabendo que pessoas que nos são queridas estão infetadas, assistindo a tantas mortes, ouvindo os receios de tantas pessoas (e os nossos também), percebendo que a situação económica do país e do mundo vai piorar…
Fiz uma reflexão (não muito longa) sobre isto, pois há uns dias que me sinto sem sanidade mental e muito exausta física e emocionalmente. Cheguei à conclusão que a resposta é simples, ainda que difícil de colocar em prática: mantendo o foco no que é, e sempre foi, realmente essencial na minha vida! Ou seja:
– Eu e o meu bem estar físico, emocional e espiritual;
– A minha família e a sua saúde;
– A minha empresa/equipa e saúde de ambos;
– Manter a alegria e paz na minha vida;
– Fazer mais vezes o que mais me apaixona;
– Ajudar os outros.
E como conseguir tudo isto numa fase em que estou quase 24h por dia com as mesmas pessoas (a minha família) no mesmo local (a nossa casa); onde as saídas para “arejar” são cada vez menos e de menor duração, onde o negócio nos exige respostas ao minuto e nos pede assertividade, onde o nosso telemóvel parece nunca parar de tocar, e onde, em simultâneo, tenho de ser dona de casa (que inclui cozinhar várias vezes por dia, arrumar a cozinha tantas vezes quantas a que cozinho, limpar, aspirar, lavar, estender, passar), ser mãe (de 3 filhos em que um deles ainda só tem 1 ano), ser educadora/professora (e a carga de trabalhos/fichas não é coisa pouca), ser líder de uma empresa a tentar sobreviver a este vírus que apanhou todos desprevenidos e responsável por uma equipa que também tem as suas famílias, ser professora de alunos que estão à espera que faça o melhor por eles, ser estudante de um curso que estou a tirar atualmente e fazer por não “perder o comboio”, ser esposa mas já cansada dos mesmos conflitos diários e pouco tolerante a qualquer coisa que vem do homem que eu amo, ser amiga mas pouco paciente e quase incapacitada de ajudar quem mais gosto porque também eu estou inundada de preocupações e constantes acontecimentos, ser filha e preocupada com o isolamento dos pais e com a possibilidade de ficarem doentes e ser MULHER que precisa de tempo para se cuidar, tempo para respirar, tempo para se amar.
Na verdade, este deve ser um dos maiores desafios que o COVID-19 me veio colocar! Acho que muita boa gente estará nesta altura a sentir o mesmo.
Mas eu sei que vou conseguir! Ontem era quase meia noite quando fui tomar banho, sem energia e sem força, e debaixo da água quente só pensava: “custe o que custar eu vou conseguir e vou sair desta melhor do que entrei”.
Acredito que o universo nos dá o que precisamos para aprendermos a sermos melhores pessoas e seguirmos a nossa viagem mais fortes.
Por isso, e porque vou continuar a ser mulher e quero que a FELICIDADE faça parte da minha vida, vou, com muita determinação, continuar a seguir o meu propósito esforçando-me por ser mais tolerante, por julgar menos, por gerir uma situação de conflito com calma, por respeitar os outros/o planeta, por ser mais grata, generosa, amável, disciplinada… esforçando-me para ser um EXEMPLO, a melhor versão de mim própria!
A FELICIDADE começa em cada um de nós tal como o combate a este vírus depende de todos. Sei que não consigo mudar o mundo à minha volta mas tenho a certeza que consigo mudar-me a mim.
Andreia Sequeira